"Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido." (Clarisse Lispector)
Fechar um ciclo para mim é uma tarefa meio que complicada. Não sei se é por conta das experiências que eu trago comigo, ou se é por eu ser como sou. Não gosto da incerteza do amanhã, embora eu as vezes fique mais no "amanhã" do que no "hoje". Não trago na bagagem lembranças boas sobre este assunto. Eu sempre saio com coisas faltando, com medo do que me deixará e medo do que pode não chegar. Tenho medo principalmente de perder pessoas. Pessoas as quais eu não me imagino sem. Mas ao longo dos anos já imaginei várias pessoas para sempre na minha vida, e bem... não foi assim. Sei que as coisas hoje são diferentes, que a minha cabeça é diferente, e a cabeça dos meus amigos hoje também. Mas o medo é uma coisa meio complicada mesmo, ele não solta da sua mão. Acredito eu que ele deva ter medo dele mesmo. O grande problema do medo é que ele nunca se contem em vir sozinho, sempre traz também as bagagens dele, as quais podemos dar vários nomes: ansiedade, angústia, lembranças, carência, solidão... Você sempre vai achar que é a maior prejudicada. Sempre vai achar que é a que mais sente falta, que é a que mais corre atras, e que já esta cansada disso, e deixa passar. Em contra partida as outras pessoas acham que você não dá a mínima, que você é orgulhosa, e junto com o seu próprio orgulho deixa as coisas como estão. O que vira um depósito de mágoas, vem dia, passa dia, e vai se acumulando, ate se tornar um processo irreversível e você acrescentar mais uma bagagem negativa no meio de outras tantas. E não me venha com a história de que "se é verdadeiro permanece" porque se houver descaso não haverá relação nenhuma que permanecerá. Pode ficar num momento 'ausente' na sua vida ate se encontrarem em sincronia de novo. Você também tem medo de estar no caminho errado, de chegar lá e se arrepender. Não adianta, a "mudança" sempre vai fazer uma bagunça enorme na sua vida, e você vai surtar. Mas bem, nada é ao todo ruim ou ao todo bom, isso é fato, e cabe a você posicionar a sua coragem no meio disso tudo. Mudar sempre envolve perdas e ganhos, e você decide de fica presa ao "você" de ontem ou ao "você" de hoje. Não é simples, nunca é, mas a vida não vai parar ate você cair na real. O que eu tenho de mais forte são minhas lembranças, sou apegada demais, tenho medo da minha própria solidão, sou dependente do amor, sou ciumenta por medo de ser trocada, e choro fácil quando as pessoas estão desaparecendo do meu cotidiano, mas também sou humana, não consigo carregar todos nas costas o tempo todo, embora sempre queira, e não posso decidir tudo, não posso ceder sempre, também gostaria de me sentir importante com alguém mostrando que eu valho a pena. Eu sempre me importo, e ignorar é tanto quanto doloroso, mas sou uma pessoa fácil, pode ate me intitular de boba. Mas sou fácil no setor de "ficar tudo bem", se você vier, ignoro as minhas mágoas com um pouco de esforço, mas o processo tende a ser mais rápido se você me mostrar que isso realmente faz alguma diferença na sua vida. Não ache que esta tudo bem porque eu aparento estar, porque não falo sobre, porque estou sempre rodeadas de pessoas. Eu sempre estou evitando, eu sempre estou no superficial, principalmente quando estou em fase de transição. Tudo tende a ficar mais desligado, a ficar deprimido, a ficar assustador, e não gosto de enfrentar essa coisa toda sozinha, porém não sou só eu quem passo por esses processos, sei que você também os passa, mas acredito que o passar juntas torne isso mais fácil. Não sei do amanhã, espero por ele hoje, mas o temo. Sei que você de certa forma vai estar la, mas também tenho medo desse "certa forma". Não posso ficar presa no que pode vir acontecer "amanhã" tenho que me preparar no hoje, por mais que esteja perdida no tempo com tantas coisas indo e vindo. Não se torne comum, não quero deixar uma parte de mim no passado junto com você. Quero ambas inteiras no futuro.
Foto: weheartit.
Texto: @mandynga
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